5 perguntas para Eduardo Fernandes
(Eduf) sobre Peruano Saudita
Eduardo Fernandes, também conhecido como Eduf, é ‘das antigas’ aqui na internet. =P Ele faz zines virtuais desde 1996, formou-se em Ciências Sociais, trabalha com tecnologia e jornalismo, faz podcasts, e mais um monte… 🙂
Em 2021 faz 2 décadas do surgimento do projeto musical Peruano Saudita, no qual Eduf gravou 5 álbuns… Leia a seguir as 5 respostas dele sobre o PS (Peruano Saudita) e sobre música… 🙂
iririu!
1. Quando e como surgiu o projeto Peruano Saudita?
Não lembro direito. Então vai um relato mais ou menos acurado.
2001. Aquele Eduf morava em SP e estava desempregado. Era um momento de crise: em 2 anos, o rapaz tinha pedido demissão da Revista Trip e saído de um mestrado psicologicamente frustrante. Os ataques terroristas aconteciam nos EUA.
Aquele Eduf junta uns colegas, como Alexandre Matias, Daniel e Bruno Galera, Daniel Pellizzari, entre outros, e cria um site chamado Fraude. Direciona todo seu interesse para a literatura.
Porém, a assombração da música continuava rondando pela sua mente. É que ele passara toda a adolescência (e até 1999) tentando ter bandas.
Eduf compra uma Epiphone SG, um SM58 e um cubo Crate. Baixa o Acid Pro e depois Cubase, se vira pra usa-los, e começa a fazer músicas, sozinho, em seu bunker urbano.
Booom. Aquilo, basicamente, o distraia das suas crises existenciais. Passava horas nerdeando sons.
Naquela época, não era tão preocupado em criar um modelo de negócios e distribuir a música. Eduf queria mesmo era fazer piada interna com os amigos da Fraude. Nem guardava os arquivos originais das músicas. Queimava uns CDs, enviava pra algumas pessoas e mantinha apenas os mp3. Às vezes, nem isso.
Quando fechava cerca de 11 músicas, considerava aquilo como um “álbum” e partia pro próximo. Fez 5 deles. Fora as músicas do outro projeto, Lost Mothers.
O nome Peruano Saudita veio de um sonho. Acordou com ele na cabeça e achou engraçado, já que, na época, se falava muito sobre sauditas.
Acho que é isso.
2. Como foi escrever as letras das músicas e escolher os nomes dos álbuns?
Letras – o processo é único: primeiro vem a melodia. Eu canto usando palavras que surgem espontaneamente, que se encaixam nela. Quando chega a hora de gravar os vocais finais, aí eu reescrevo como letra, mas tentando preservar ao máximo aquilo que foi cantado antes. É que cada música acaba “pedindo” uma letra. Não sou eu que imponho o tema, stricto sensu.
Nos dois primeiros discos, eu estava migrando de uma visão mais intelectual, de piadas com comentário social, para um mergulho mais emocional e abstrato. “Homônimo” é bem mais psicológico.
Capa do álbum “Canções de Amor” de 2002 (em baixíssima qualidade pois foi resgatada via WaybackMachine) e print da página do Peruano Saudita em 30 de janeiro de 2003, com as faixas do álbum e algumas informações. – Esse álbum não é comentado por Eduf na entrevista, mas só vi isso depois que as perguntas acabaram. #sorry
A escolha dos nomes dos álbuns sempre vinham de piadas e trocadilhos:
- lml – era uma versão txt daquele símbolo que fãs de metal fazem com as mãos. A gente usava isso na época, em emails.
- Nihil Metal – era um trocadilho com nu metal, um gênero que estava em voga em 2002 / 2003.
- The World Speaks Broken English – é o único disco do PS (Peruano Saudita) em Inglês, então era uma espécie de aviso de que o sotaque e a gramática seriam um tanto toscos.
- Homônimo – no jornalismo musical dos anos 80 e 90, quando uma banda que lançava o primeiro disco com o mesmo nome da banda, ele era referido como “Homônimo”. Achei interessante que o último disco do PS tivesse esse exato nome.
- Não cheguei a batizar o disco de regravações de 2007. Basicamente, regravei músicas que eu queria ouvir, mas ninguém mais tinha os arquivos. Sobretudo “Underground”.
Ainda pretendo regravar as que lembro de cabeça. Quando? Vai saber.
3. Como foram os aprendizados e experiências musicais (com bandas e sozinho) antes do projeto Peruano Saudita e durante ele?
Das minhas falhas em manter bandas aprendi o seguinte: relaxar, tem que relaxar.
Eu tinha meus planos, um som que eu queria criar. E estava tão focado naquilo que nunca ficava contente com a música que eu ouvia, na colaboração com os parceiros.
Nunca fui ditador, sempre negociei. Mas estava sempre frustrado por não conseguir “materializar” o som que eu ouvia na cabeça. Isso acabou causando desgaste entre os músicos, ainda que não surgissem brigas. Sou amigo de alguns deles até hoje.
No PS, a limitação técnica, minha capacidade como músico. Ainda assim, eu me virava. E estou bem contente com o resultado. Quer dizer: eu gostava de fazer, ainda gosto de ouvir o que aconteceu ali, naquela época.
Embora só eu tocasse e produzisse, não sinto que o PS tenha sido um projeto “meu”. Era um fluxo de informações e emoções com a qual eu brincava. Uma colaboração entre tecnologias e circunstâncias. Se é que você me entende.
E talvez tenha sido algo tão pessoal, tão experiencial, que é natural que poucas pessoas tenham se conectado com o PS ao longo dos anos. Mas ok. Estou satisfeito com o que foi vivido e gravado.
4. Quais artistas e bandas te afetaram e inspiraram musicalmente nos vários momentos da vida?
Comecei no funk e soul, fui ouvindo metal e hard rock na adolescência. Mas sempre ouvi de tudo. Mr. Bungle e John Zorn me ensinaram a misturar sonoridades (não só música). A parti dali, percebi que as inúmeras fusões que já aconteciam antes, em vários outros estilos.
O PS é o resultado dessa formação com ênfase na mistura. Por exemplo, em “Professional Optimism”, há um solo de harmônica (tocado por um amigo forrozeiro), junto com tablas e djembes, no meio de uma base inspirada em stoner rock.
Aliás, na época do PS, eu ouvia direto os discos Songs For The Deaf e Rated R, do Queens of Stone Age.
Já no projeto Lost Mothers, eu estava numas de Beck do começo de carreira.
Era eu tentado ser “pop”. Esse disco eu poderia ter gravado e mixado beeem melhor. 😀
5. Quais estilos e artistas/bandas você tem escutado em 2021?
Não tenho muito tempo pra ouvir música hoje em dia. Até porque gosto de parar e prestar atenção em arranjos, detalhes etc. Quando acho algo legal, coloco lá na minha playlist do Spotify. A última coisa que me impressionou foi o black midi.
O detalhe é que o dinheiro acabou, então parei de pagar Spotify. Não apareço muito mais por lá. Tô pensando em alternativas. Em 2005, acho, cheguei a ter um podcast só sobre música, o Firme e Forte. Quem sabe um dia eu volte com ele. Mas, hoje, é impossível, por conta da minha rotina de trabalho.
Saiba mais sobre o Eduf acessando site dele em eduf.me, nele pode acompanhar os podcasts, textos e outras coisas que ele anda fazendo. 🙂
Para ouvir as músicas feitas por ele você pode acessar o Soundcloud, e no Youtube tem alguns videoclipes e outros vídeos diversos (como a série TerapIA, um vlog-fictício de um Terapeuta feito com Inteligência Artificial). 🙂
Confira também a ótima conversa entre Eduf e Alexandre Matias, que foi ao ar no canal Trabalho Sujo no Youtube. 🙂